sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Pai

Olá Pai,

Preciso tanto falar contigo, tenho tantas coisas para te dizer, temos tanto que conversar...

Há agora muito em ti que entendo, agora que te perdi.

Eu estava tão zangada contigo e nunca te disse porquê! E o que mais queria agora, era ter a certeza que tu sim, sabias o porquê da minha zanga.

Porque tu não tinhas pressa.
Porque as tuas prioridades não eram as minhas.

Estava zangada porque te queria preocupado enquanto tu, estando preocupado vivias cada momento apreciando o melhor, o teu melhor, mesmo que acessório para mim. Eu queria resultados, queria ser pratica, queria correr, queria ultrapassar tudo, mesmo ultrapassando pequenos prazeres que, eram um obstáculo à minha determinada correria. Estava zangada porque ocupavas o teu tempo com pormenores que eu não entendia.
Estava zangada porque ao invés de seres frio, obstinavas com as teorias de cabalas e perseguições. Estava zangada porque achava que não te preocupavas com um futuro que eu previa tão difícil, porque rias e debatias os assuntos do dia que não eram os nossos assuntos. Estava zangada porque quando lutavas, era pelas tuas convicções, mesmo sabendo que me ouvias, as tuas ideias sempre prevaleciam. Estava zangada porque só fazias o que querias.

Porque o teu tempo era afinal, mais precioso. Eu perdi-o zangada enquanto tu o vivias, mas mesmo que mo tivesses explicado eu não o teria entendido.

Enquanto estive zangada, tu aproveitaste os pequenos momentos que nos enchem a alma.

Tínhamos que ter falado, tinhas que me ter explicado, eu tinha que ter percebido e mesmo que não percebesse, teria ouvido, porque afinal não tinhas mais ninguém a quem, mesmo nesses momentos de pequenos prazeres, desabafar o que realmente te ia na alma.

E aguentaste tudo sozinho, e eu aguentei tudo sozinha e zangada, e devíamos ter dividido o peso, porque para ti foi demasiado e porque agora eu não te tenho e tenho o peso sozinha.

Não penses nunca que te culpo! Nunca! Pelo contrário admiro-te.

Agora continuo zangada por ter estado tão zangada contigo. 

Preciso que saibas que o amor que sinto por ti é imensurável, que só agora percebi tudo isto, que doi muito ser tarde.

Preciso tanto que me oiças! Desculpa se não te entendi. 

Além do Pedro que tem sido incansável, não tenho com quem desabafar, por isso escrevo aqui, para ti.

A Conceição disse-me que não te posso pedir ajuda, que tenho que te deixar ir... e se eu não quiser que tu vás? e se eu não acreditar que alguma vez irás, e se eu ainda nem sequer acreditar que não estás aqui?
Então é aqui que vou desabafar, contigo meu Pai.

Deixo-te a promessa que vou lutar.
Amo-te muito!

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