sábado, 30 de abril de 2016

Papá!

Quando torcias o nariz às encomendas de Serpa e Santa Eulália, eu ficava zangada, mais uma vez não entendia. Nesta ultima viagem percebi o que são 820 Km ... a paisagem abençoa o cansaço, os números fazem pensar. Não tive coragem de aumentar o preço do transporte para Serpa. O Costa é o amigo! O teu amigo e meu também. Essa ligação compensa o esforço. A viagem é linda! Sabes quando te pedia ajuda num caminho? Enchias-me de pormenores, a arvore, a seta, a casa, o que eu dava por tudo isso. Começo a ter medo... Segunda feira vou apresentar-me como arguida num qualquer processo crime. O Dr. Fernando não vai comigo, aconselhou-me a não dizer nada!, mais uma vez fico calada! E este grito que quase implode, que lhe faço eu?Eu imagino que se há algo que te tira a paz é não ficar para ver o desenrolar deste processo que te levou. Juro-te meu Pai, vou estar aqui para te homenagear e, se possível, para me sentar contigo, à beira do rio, a ver os corpos passarem... terei eu essa paz?
Preciso tanto de ti ao meu lado, a Sandra está a recuperar, tem-me surpreendido, com gestos e palavras, preciso tanto acreditar que ela me vai ajudar...

Vou dar-te um abraço apertado, como nem me lembro de alguma vez te dar, vou pedir ajuda ao meu espirito, como a Ana me aconselhou, vou esperar o quentinho da tua alma tão rebelde, a energia do teu ser, tão meu, tão nosso, tão teu...

Papá... lembras-te? És o meu herói!
Nês

sábado, 16 de abril de 2016

Mértola

Pai...

Cheguei agora de Mértola, sinto-me exausta. No caminho parei e apanhei rosmaninhos determinada a deixa-los no cemitério, onde ainda não tinha ido desde Janeiro.

Fui...

Fui pelos motivos errados, porque queria perceber o que se passa comigo, queria ver o que não quero, queria perceber o que sinto...
e, porque tão bem sabes, ainda não me libertei, como tu tão bem fazias, das regras daquelas gentes tão boas e tão crentes que já murmuravam a minha ausência e desligamento da obrigação de embelezar aquele sítio onde eu sei que tu não estás...
Lá estão muitas flores e uma vela acesa e eu separei o ramo de rosmaninhos em três...  Olhando para aquele monte de terra, só forçando-me a pensar que foi ali que te quiseram por é que por breves instantes o meu corpo foi assolado de uma dor insuportável, só forçando... Sem esforço, era apenas isso, um monte de terra. Aceitei que não estou a aceitar, percebi que não acredito, só se me esforçar e não o quero fazer. Muitas vezes durante estes meses, por acasos ou sons ou cheiros ou pela tua imagem que constantemente vejo de relance em todos os sítios que conhecíamos, em palavras soltas ou imagens, cai em mim a realidade e sinto a tal dor insuportável e logo a rejeito e o meu caminho continua. Sinto-me muito cansada Pai, mas tu bem sabes da minha força e persistência e não vou parar, sei que me iluminas, sei que me guias... Naquela terra já chorei as pessoas que mais amo. O meu avô, a minha avó, a avó Artemisia e talvez sejas tu quem impede que chore também por ti, porque não o irias querer, mas sabes Pai,lá no fundo eu sei que preciso fazê-lo, preciso chorar debruçada naquele monte de terra ou noutro qualquer lugar deste mundo, mas algo me bloqueia e eu tenho medo, medo do que oiço, medo que esta dor insuportável me destrua por a não a querer sentir. Não o faço em consciência, apenas me acomodo... Sabe bem não sofrer !

Por enquanto a minha guerra em iluminar a tua memória é o que me dá alento, sabendo-te comigo, e cada vez mais próxima de ti! Perdoa-me se isso interfere com a tua paz...

Há uns dias abri mais um segredo teu, foram horas de deleite a ler aqueles envelopes cheios de cartas e poesias e coisas tão tuas, li o que quis e o que não quis, li tudo! Jurei que nunca um filho meu teria de esperar pela minha morte para saber tudo o que soube de ti, porque foi arrebatador e encantaste-me como o deverias ter feito enquanto estavas ao meu lado, ou talvez tivesse que ter sido eu a senti-lo.

Ficamos ainda mais próximos, e eu fiquei ainda mais longe de te deixar ir!

Pai! Não aceito! Contigo falaria sobre isto e tu irias entender, só tu! Só tu!

Nês



sexta-feira, 8 de abril de 2016

Nós os dois...






Ao fim de algum tempo, já nem precisávamos dizer nada, bastava aquela troca de olhares. Muitas vezes condenatórios, quando a tua alma irrequieta falava mais alto, muitas vezes cúmplices, quando queríamos rir e gozar e o momento não se adequava. Quando nos encontrávamos e queríamos gozar e sabíamos que não devíamos, mas tu não aguentavas. Foi tão bom trabalhar contigo Pai, tivemos muitas zangas, muitas discussões feias, mas agora, este bocadinho de paz no meu peito, diz-me que o mau foi tão pequenino quando comparado com tudo o resto. As saudades ainda magoam muito, sei que um dia me vão fazer sorrir. Nesse dia vou brindar a ti e a mim e à nossa história de Pai e Filha e de amigos cúmplices. Foi tudo tão bom, foi e é, porque continuo a trabalhar contigo.
A mana... muitas vezes divergimos acerca dela, mas por fim já concordávamos, eu como irmã e tu como Pai, tu sabes a que me refiro. Somos bons, temos um fundo bom, acreditamos no que nos dizem, temos que ver para deixar de acreditar...
Posso desabafar? Mais uma vez a mana é o centro das atenções, não são atenções, é dor, uma dor imensa. Um dia de manhã, chegaste ao pé de mim e com as lágrimas nos olhos contaste-me à tua maneira a visita que fizeras à mana. Passaste por lá, como gostavas de fazer, sempre sem avisar, e discutiram e não entraste... e quando me contavas tudo isto, à tua maneira, a maneira que fez com que não aguentasses, acredito eu, a tua voz estremecia e quase choraste. A mana é o teu orgulho... sim eu sei o que é um primeiro filho e sei as diferenças para o segundo. Hoje queria-te aqui, só nos os dois, porque tenho ido buscar forças à tua memória e não sei mais aonde, mas hoje queria tanto ouvir a tua voz e aquela frase que tantas vezes me irritou: - "Vai correr tudo bem!"
Serei má, serei desumana, sou apenas ignorante mas receosa do que diz respeito à nossa mente.Ninguém diz nada à mana, como nunca ninguém o fez. todos sabem, todos vêem mas ninguém fala, como há anos atrás eu peguntava à avó, mas porque é que tenho que ser eu a limpar o pó sempre? e a mais honesta das respostas... porque a tua irmã se zanga! Terão sido vocês os culpados? Terão sido todos culpados por nunca terem confrontado a mana com NADA, porque se zanga ou porque coitadinha, ou porque a doença. E eu? Pai, só para ti, o que de mais fundo existe na minha alma, sabes o que tenho nas mãos, a empresa, as dividas, os clientes, as finanças, tudo. Não tenho tempo para os teus netos e sinto-me mal por isso, muito mal, sabes o que penso?Desde sempre... difícil, desde sempre ciumenta e invejosa, desde sempre complicada. A vida trouxe complicações, como sempre traz, obstáculos para que os ultrapassemos e fiquemos mais fortes, maiores na nossa alma e mais mágicos se quisermos. Com ela não, os obstáculos foram a base de dramas, para chamar a atenção para reivindicar apoio, e o apoio chegou sempre, pela comiseração e pela pena e pela ignorancia e pelo medo de perde-la. Uma gripe era uma pneumonia, uma tosse era tuberculose, uma tristeza era uma depressão, uma depressão era uma depressão profunda, e o drama maior, não posso ter filhos! Todos choramos, fiz o que pude, nenhum médico serve, nenhum médico é bom, nasceu a mais linda das tuas netas, a benjamim... e agora? Oh meu Deus está tudo bem e não sabemos lidar com isto, temos que arranjar um drama... e deixamos de tomar a medicação e o drama surge, inevitavelmente. Eu sei que isto não é consciente, eu sei que isto faz parte de uma área que não controlamos, mas neste momento está tudo descontrolado!A mulher mais maravilhosa deste mundo é a minha mãe, por isso a escolheste não foi?, está a sofrer demais, e não é a primeira vez, e sabes Pai? a mana trata-a tão mal! todos vêem, todos comentam, ninguém diz nada, até a Mariana me pergunta porquê e eu nem sei responder. Mais uma vez apelou ao mais baixo sentimento que existe, a pena, mas desta vez parece que já ninguém acredita. Espero que sim, que seja internada, espero ter a possibilidade de dar a minha opinião, espero que a manipulação e desonestidade entranhada na minha irmã não prevaleça, espero que por fim, se reabilite o corpo para tratar a mente, sonho com um dia, na Ericeira, onde essa cadeira em frente ao mar ainda existe, nós as duas nos sentemos e, talvez seja nesse dia, brindemos a ti e agradeçamos o tudo que nos deste.Pai, imagino-te aqui comigo, sabes bem do que estou a falar. Fica comigo por favor! Amo-te!



Quem me dera que o tempo mudasse esta roda gigantesca, parasse por momentos e permitisse que as suas voltas se cruzassem e eu te encontrasse e não escreveria mais, apenas trocávamos olhares e saberíamos o que sentir..
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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Meus desejos

O que eu queria agora...

Falar contigo
Dizer que te amo
Perguntar-te porquê
Pedir que me ajudes
Pedir que guies a mana
Contar-te os meus dias
O Diogo
A Mariana
Sabes?
Não acredito que não estas comigo.
Procuro-te em todo o lado,
Em todo o lado deixaste uma marca
E eu vou sabendo dela,
Menos comigo,
Comigo não te encontro,
Não sei de ti.
Vivo os teus caminhos,
Vivo as tuas discórdias,
Vivo a tua ira e a tua zanga,
de tal forma que anseio por vingança,
com dor e feridos e mais dor,
Para te homenagear, meu Pai.
Meu herói.
Meu herói.
As forças não me faltam... acho...