sexta-feira, 24 de março de 2017

O que ainda vem...

Papá,

Tudo tem sido uma montanha russa, em mim pelo menos, dias de sol, dias de chuva, sorrisos, lágrimas, um misto de emoções sem nenhuma certeza de paz ou serenidade. Tenho lutado por isso, por momentos de paz, tenho procurado e tenho encontrado, mas são etéreos.

As viagens enchem-me, é a tua presença, é o sentir realizado, é o dever cumprido... As minhas viagens agora enchem-me ... quantas e quantas eu fiz a chorar, mesmo sentindo que me acompanhavas.

 Agora fazem-me bem!

Esperar pela decisão do juiz de instrução está a fazer-me tão mal. Tenho aprendido a aceitar a impotência.... Isso libertou-me, em relação à Sandra e a tudo o resto que parece menor, mas não é.

Chegou a Primavera mas está frio, Tantas vezes dou comigo a imaginar o tudo que eu gostaria de dizer em tribunal, faço o teatro e tudo, e falo e choro, e disserto acerca de ti, da tua vida, e depois tento acalmar-me, depois recordo o que escreveste, e sei, sem dúvidas que foi isto que te levou de mim. Logo caio em mim e mudo, e tento esquecer. Ainda não dividi, mas sei que não demorarei a guardar o que ainda demora e a encarar o que sem pedir, me obriga...

Tenho te lido papá, tenho mudado a perspectiva, fica tudo tão diferente! Não sei bem de onde vêm as forças, não sei bem... tenho visto a nossa lua... ela tem estado sempre presente, tenho medo de não estar à altura, tenho medo de perder as forças, tenho medo de desistir.

Estou cansada!
Amo-te, dava o mundo para te ter aqui comigo, para falarmos,  para nos rirmos, para sermos, só, só sermos tu e eu!


sexta-feira, 17 de março de 2017

A lua

Papá,

Ali debruçada na janela, o mundo lá fora, o corpo aqui dentro. Falou-me da música e eu entendi, a música faz parte da minha vida, dos meus dias. Debruçada na janela imaginei a minha música a encher de vida quem tanto de vida e de musica precisa. Estarei lá, sempre!

Debruçada na janela vi que as magnólias deram lugar a lindas folhas.
Debruçada na janela, senti o fresco da noite, e permiti-me sentir alegria e gratidão e pela primeira vez não me oponho a sorrir, não me oponho a sentir. Deste-me esse privilégio, o espaço, a fabulosa capacidade de sentir, de serenamente aceitar qualquer dádiva do mundo. Ainda não sei abstrair-me dos dias em que a realidade pesa no meu ser, mas hoje... só hoje, vou adormecer com os meus sonhos, quietos, fica comigo, quieto, aguardamos a paz, virá nua, sem disfarces e nós, aqui estaremos para a receber.
Aquela lua tem acompanhado cada passo meu. Não me deixes!
Nês

sexta-feira, 10 de março de 2017

10 de Março, 2017

Meu Pai querido,

A viagem hoje não foi fácil, imaginei-a contigo tantas vezes. Fi-la sozinha. Uma hora e meia até Évora e o Dr. F. à minha espera. Cafezinho amigável, acho que começo a gostar dele e talvez cheguemos a um ponto em que terei coragem de lhe dizer o que sabes que preciso dizer-lhe. Estava um dia lindo em Évora, o Alentejo está resplandecente de cores e aquele brilho que apenas se vê, onde se consegue ver longe. Tentei perceber exactamente o que iria passar, ele explicou como tão bem faz. Entramos e a sala estava cheia... não reconheci ninguém, ambiente alegre e descontraído. O Dr. F. esteve sempre do meu lado. Apesar de tudo o que sabemos, inevitavelmente a minha situação é frágil e todos o demonstraram tão bem, ou não, talvez fosse eu quem me sentisse diminuída. Devíamos ter falado sobre esta parte da questão... a que te levou para longe de mim não foi? A humilhação, o rótulo, a frieza...Magoa tanto meu Pai, espezinha e humilha, e muito mais faz no nosso intimo, digo-to aqui porque sei que o devia ter ouvido e não estive à altura, talvez porque tanto o escondesses.

Tudo isto é novo para mim, num tribunal o arguido não vale nada, esteja ou não inocente, assim foi, não fui nada hoje. Nem  merecedora de um cumprimento por parte de que te conhecia, mas que infelizmente, eu não. Entendi... Conheci o Sr. Arlindo, apenas isso, conheci...

Numa sala improvisada, 15 advogados vestiram os trajes... e eu ali. Depois apareceu o ministério público, na figura de uma jovem meio atabalhoada e todos se levantaram, eu nem percebi, nem tive tempo. Depois apareceu a Juíza e começou e todos falaram e demasiadas vezes foi dito que morreste e só por isso eu não contive as lágrimas... pensar em ti é diferente de ouvir falar de ti.

Como é tudo demasiado, acho que arrumei em caixinhas bem fechadas, o que não era prioritário, não pela dimensão ou preocupação da minha parte, mas simplesmente pela linha temporal em que me apareciam... este processo estava numa dessas caixas, foi hoje aberto. Mantive a minha força até que tudo acabou e me vi sozinha.

É como num teatro, personagens vestem trajes imponentes, usam vocabulário que já ninguém usa, tudo é "douto" todos são "meritíssimos" e eu era apenas "os demais presentes", falaram de ti sem saberem de quem falavam, preciso libertar-me desta angustia, preciso dividir o que é do meu coração e o que é da minha razão. Já passou um ano Papá, e essa linha ainda é muito ténue.

Dada a complexidade de bla bla bla, a decisão será tomada... não hoje, parece que dentro de 30 dias.

Foste poupado a tudo isto, ainda bem Pai, não o merecias. Eu muito menos eu sei, mas são as perspetivas que mudam e quando mudam, tudo muda. Nessa mudança fica comigo a razão e a decisão de perspetivar o que rodeia, a Mariana, o Diogo, o Pedro, a Mamã. Maldita perspectiva que não abrange todos. Vou reorganizar as caixinhas, vou assumir que não posso cuidar de tudo, vou ser assertiva quando me confrontarem, vou lembrar-me  de mim... sim Pai eu, eu preciso de paz, preciso de colo e de mimo e não quero! Não quero! Quero-me a mim, forte.
Falavas-me nos teus guias, tenho pensado nisso. Aquelas viagens deixam-nos espaço para tudo não é?, para pensar, para relaxar, para divagar e por vezes para quase enlouquecer.

Quase três anos, desde que iniciei este desejo de vingança... é destrutivo Papá, nunca falamos acerca do teu desejo, mas era com certeza mais forte que o meu, tanto que te destruiu, estou certa não estou? Nessa altura, tudo eram hipóteses e conjecturas, agora tudo toma uma forma, uma ideia, a de vingança, tal como a imagino, ainda sem a força emocional, apenas a racional:

"Matá-los com sucesso, enterra-los com um sorriso"

O meu grande desejo o Dr F. deitou já por terra, Enaltecer e dignificar a memória do meu herói, fazer desta fantochada o ponto de partida para que a verdade fosse ouvida, a verdade, a verdadeira verdade!

As saudades doem, os sinais são reais Pai? ou sou eu quem os quer ver?
Dá-me força Papá, aquela que tu tens!
Amo-te!


sábado, 4 de março de 2017

Uma nova ... era? vivência?

Meu Pai:
Deixaste-me há mais de um ano, deixaste-me um drama.
Sobrevivi com ele e contigo, zangada e culpada e sofrida e desesperada e a suplicar por uma paz que não vinha.
Deixaste-me um processo complicado, um advogado em que não confio, e mil historias que abomino mas que estão aqui,minadas de gente que quer ser amiga e afinal apenas odeia a imensidão do ser que és.
Tenho uma luta grande pela frente. Tenho uma historia linda como passado. Tenho o agora!
Sabes Pai, invejo-te, conheceste o mundo, todo ele, faltaram os fiordes e a aurora boreal. A inveja à tua volta não te irá minar...

Pai: Já percebi, ver o passado e entende-lo, é iniciar um futuro. Quem descarta esse passado não entende a missão do futuro. Afinal fica tudo na mesma, tal como contavas. Maldito heroismo, maldito ego, maldita imagem. Maldita imagem que tanto importa. Quando no fundo só queria aquela  vóz linda que gritava Tita. Ah pois... a Tita incomoda   quem ficou sem voz, e a voz é minha! Já chega Pai, tenho o que quero, tenho o que não quero. Tenho o fim!... O FIM! depois venho eu!

sexta-feira, 3 de março de 2017

A nossa vida...

Fica assim...
Fiquei com os nomes e com as datas,
Fiquei com imagens e os teus sentimentos,
Fiquei com o receio dos outros,
Fico contigo, sempre... Para sempre!