sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Arrumar caixinhas

Véspera de Natal

O que preparei, esperando uma noite de alegria e festa dos teus netos, transformou-se numa tentativa de manter uma alegria e uma festa, manchada cá dentro com a presença da Sandra... Pensámos nós... como é possível? Como? Ficamos sem palavras, observamos atónitos e em silêncio a presença da nossa querida Sandra. Sofreste mais que eu, és Pai... Não falamos, nem sei porquê. Eu queria tanto um Natal feliz... Enchemo-nos de máscaras e passamos o tempo com conversas giras e fúteis, com muitas garrafas de vinho.
Foste embora com o Tiago e nem nos despedimos, o que eu dava agora por um abraço teu?

Dia de Natal

Pedi à mamã que voltasse com a Sandra, havia sobrado tanta coisa... aqui passamos o dia, vimos fotos e recordamos tempos passados, falei contigo e vi os teus passeios sozinho pela nossa Lisboa, estive contigo em pensamento, pensei que te devia ter convidado para estares connosco, penso que não o fiz por medo que o sofrimento que pairava no ar e que nem eu nem tu entendiamos bem se agravasse com a tua presença, sempre forte, sempre assertiva, sempre desadequada no tempo e espaço. Imaginei-te forte nos teus passeios, imaginei-te seguro nas tuas convicções, imaginei-te apreensivo e amargurado pela imagem da tua Sandra, na minha mente ficava um havemos de falar... eu hei-de amenizar essa amargura e havemos de trocar ideias.

30 de Dezembro

A caminho de Almada para ver o bebe da família, sim a tua família, tu sentias isso, ligaste-me, falamos, brincaste, eu abreviei a conversa porque como sabes, detesto falar ao telemóvel. Disseste que ias para Mértola e eu achei bem.

31 de Dezembro

Trocamos mensagens, já passava da meia noite, sobre as facturas para o Sérgio. Esse foi mais um golpe não foi Pai?, tudo o que planeavas caiu por terra... Falámos perto das oito da noite, sei que pensei porque raio não te convidei para estares comigo, mas eu estava zangada, talvez menos zangada dado a época festiva. Desejei-te muita saúde que isso era o que nós precisávamos...

Não falámos mais!

No dia 1 vi o que escreveste no Face, no dia 2 vi o que escreveste no Face e no dia 3 acordei com uma angústia inexplicável, ou racionalmente explicável por tantas outras situações, no dia 3 liguei-te, duas vezes e o teu telemóvel estava desligado. Imaginei que não tinhas bateria... Acordei às 5 da manhã peguei no telefone e quis ler aquela mensagem "o nº que tentou contactar já está disponível" e não havia nenhuma mensagem. Não dormi mais, fui para Lisboa, depois de deixar o Diogo na escola, a medo, liguei-te mais uma vez...

Pedi à Isabel que te procurasse e recebi um telefonema do Tio Eduardo e caí no chão...

Pai... não consigo descrever o amor que sinto por ti.
Pai... não consigo perceber que não estás comigo.
Pai... não consigo parar de ter medo de saber...

Eu achei que ia arrumar caixinhas, mas para arruma-las eu precisava de um abraço, precisava não sentir culpa, precisava ter estado contigo... nem sei como nem quando, sei que me falta um pedaço de alma, um pedaço de coração, um pedaço de mim.

Depois desse telefonema, perdi-te!




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