sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Parar

É tão grande o peso Pai...

E tu, Pai maravilhoso, nunca o partilhaste. Como não partilhaste a humilhação, a impotência, a vergonha que te fizeram passar... pelo menos comigo. Sempre criaste aquela imagem de quem não se preocupa, mas preocupavas-te tanto. Porque é que não me mostraste tudo isto? Porque é que eu não quis ver?

Tens amigos maravilhosos... dos quais também nunca me falaste... tanto que não falámos!

O peso está agora em cima de mim, mas não te preocupes, sou forte, estou a fazer as coisas à minha maneira, muitas delas sei que não concordarias, mas é o melhor  que sei. O Paulo da CA tem sido, como sempre, um verdadeiro amigo. Os do Bes umas bestas. Os teus clientes do Alentejo sentem a tua falta, falam de ti com dor. Na serra o Sr, António, à sua maneira mostrou-me o quanto sentiu a tua partida. A Margarida M. só soube ontem, disse que estava em choque. O Costa esteve em Mértola, abatido, em Mértola estiveste rodeado de grandes amigos, mais não estiveram pois foi tudo demasiado rápido. O Tio Eduardo tem sido uma voz de alento e uma presença muito querida. Deixaste por onde passaste uma marca enorme, visível a quem por lá passa.

Tenho-me perdido em cada viagem que faço. Perdi-me em Tábua às 5 da manhã. Perdi-me na Serra, perdi-me no Alentejo. Não tenho a tu capacidade de me orientar e o GPS da Margarida (dei-lhe este nome, a tua carrinha) só me baralha.
Estamos em Fevereiro, não há autorizações e assim, não há dinheiro, e como ele me falta.

Hoje foi a habilitação de herdeiros, mais um acto formal que custou muito. Sabes que não estou a encarar muito bem a realidade, estou aqui a escrever para ti com a total convicção que irás ler, ouvir certas palavras custa-me e irrita-me.

A tua amiga Belinha Navarro é uma querida. A tua amiga Ana Rita Queiroz é uma surpresa, gostava de falar com ela, parece que te conhece de uma forma muito singular. A Clara Reis é uma incógnita, tenho uma vontade doida de lhe pedir amizade no Facebook, não para saber que tipo de relação tinham, apenas para a ouvir falar de ti, afinal foi a última pessoa com que falaste e falaste tanto!

A mana... sei tão bem o quanto te fazia sofrer... a mana está a recuperar, mas muito devagarinho. estou certa que me vai ajudar muito e juntas, com muitas cedências de parte a parte, com o obrigatorio crescimento emocional dela, vamos ter sucesso e homenagear uma obra que começaste e que não vou deixar acabar.

O processo e a polícia... por um lado adoraria que tudo começasse, por outro lado sei não tenho a serenidade necessária para fazer de tudo isto uma enorme lição para aquela cambada de prepotentes, falhados e frustrados, tal como tu acreditavas que iria ser, e eu também... mas não queria mais especular... por isso também sobre isto não falamos...

Olha só este desabafo...

Pus aquela imagem das margens do rio, porque senti que era onde tu conseguias parar, na margem bonita do rio, a apreciar o cheiro a terra molhada ao mesmo tempo que vias sereno a corrente que seguia o seu caminho, por vezes numa calmaria insonora, noutras num turbilhar de emoções, como eu... na minha correria, querer tratar de tudo, prever tudo, antecipar-me... estou exausta... quem me dera ter aprendido a parar um bocadinho, sentar-me nas margens do Guadiana e simplesmente ver a corrente levar a agua serena ou apressada...

Obrigada pela Lua que me acompanhou, como tu, ontem de madrugada!

Será que isto que hoje sinto é um bocadinho de Paz???

És o meu guia agora! Meu Pai!
Nês

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